sexta-feira, 29 de março de 2013

O julgamento de Jesus.


Jesus Cristo diante de Pôncio Pilatos
Jesus sendo questionado por Pôncio Pilatos Eis o homem   Ecce Homo   Imagens de Jesus e Pôncio Pilatos
eis o homem frase pôncio pilatos Eis o homem   Ecce Homo   Imagens de Jesus e Pôncio Pilatos
5. Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem. 6. Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele.

Poncio Pilatos imagem 768x1024 Eis o homem   Ecce Homo   Imagens de Jesus e Pôncio Pilatos
12. E no mesmo dia, Pilatos e Herodes entre si se fizeram amigos; pois dantes andavam em inimizade um com o outro. 13. E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo, 14. Disse-lhes: Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.

Poncio Pilatos pergunta a Jesus qual a verdade 738x1024 Eis o homem   Ecce Homo   Imagens de Jesus e Pôncio Pilatos
11. E foi Jesus apresentado ao presidente, e o presidente o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos Judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes. 12. E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. 13. Disse-lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti? 14. E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o presidente estava muito maravilhado




Perfeita Injustiça: O Julgamento de Jesus Perante Pilatos

Um dia no tribunal

Ainda era cedo de manhã, mas Pôncio Pilatos, o governador romano da Judéia, já se deparava com uma lista cheia de causas a serem julgadas. Ele não queria ser incomodado com as intrigas do sumo sacerdote dos judeus e seu conselho de anciãos, o Sinédrio. Na Judéia sempre faz calor desde o início do dia e Pilatos já estava suado e irritado, antes mesmo que os membros do conselho judaico se apresentassem diante dele arrastando consigo aquele profeta judeu, pregador do deserto ou seja lá o que fosse.
Pôncio Pilatos costumava ficar no palácio de Herodes quando visitava a cidade de Jerusalém. Era a ocasião em que os judeus celebravam uma de suas festas religiosas e ele começava a ter uma sensação de que esse era um caso do qual não conseguiria se esquivar. É verdade que ele odiava Jerusalém, bem como os judeus com seus costumes religiosos e suas prescrições insuportáveis, além de odiar a atitude obstinadamente defensiva desse povo no que dizia respeito ao seu templo. Porém, ele sabia que não podia correr o risco de melindrar o Sinédrio, sem dúvida, não agora. Afinal de contas, uma multidão de judeus se reunira do lado de fora do Pretório, junto com os principais sacerdotes e sua ordem religiosa de mestres da Lei. Eles não sairiam dali enquanto ele não julgasse o caso daquele sujeito chamado Jesus.
Quando Pilatos olhou para o acusado, que estava diante dele manietado e quieto, percebeu que uma “justiça brutal” já tinha sido administrada contra tal homem. As vestes de Jesus estavam rasgadas e era evidente que ele tinha sido espancado.
Não há nada de estranho nisso, pensou Pilatos. A não ser por uma coisa. Algo relacionado com o comportamento daquele homem. Será que se poderia chamar aquilo de dignidade? Dificilmente. Um pregador errante; vestido de trapos. Bem, o que quer que fosse, começava a enervar Pilatos. O governador se sentia cada vez mais pressionado a tomar uma decisão. Mas aquele homem, em pé diante dele com um olhar sereno e implacável, sem um pingo de medo ou ansiedade, apesar de ensangüentado e de provavelmente ter que enfrentar a pena de morte, tornava a situação ainda mais difícil.
Com o objetivo de fazer uma demonstração de força em Jerusalém e assumir o controle pela intimidação, Pilatos, na calada da noite, ordenou que suas tropas hasteassem estandartes ou bandeiras romanas no contorno de uma determinada área, todas elas com a imagem de César estampada.
Pilatos não podia ajudar; só conseguia relembrar seu histórico mal-sucedido em Jerusalém. Ele tinha sido convocado à Judéia para reassumir o controle da região. Seu antecessor, Arquelau, um dos filhos de Herodes, o Grande, cometeu um erro sórdido na tentativa de governar aquele território. Esse governante herodiano enviara suas tropas aos pátios do templo a fim de controlar uma rebelião violenta e acabou por massacrar três mil pessoas. Poucas semanas depois, Arquelau ausentou-se tranqüilamente de Jerusalém para fazer uma viagem a Roma e outra rebelião estourou. Essa última insurreição foi, finalmente, subjugada pelos romanos, depois que estes crucificaram dois mil habitantes locais ao redor das muralhas da cidade.
Pilatos pensava que podia fazer melhor. Afinal de contas, quando ele chegou a Jerusalém, pela primeira vez, na qualidade de governador, pensara consigo mesmo: César exige paz e ordem nos territórios de sua ocupação – e eu estou pronto a oferecer-lhe o que exige.
Mas, então, a realidade chegou. Pilatos, na intenção de sufocar um distúrbio, teve de enviar tropas para dentro da área do templo, as quais mataram muitos galileus, de modo que o sangue destes, derramado sobre o piso pedregoso, acabou por se misturar com o sangue dos animais que tinham acabado de ser sacrificados.
Em seguida, aconteceu o fiasco dos estandartes. Com o objetivo de fazer uma demonstração de força em Jerusalém e assumir o controle pela intimidação, Pilatos, na calada da noite, ordenou que suas tropas hasteassem estandartes ou bandeiras romanas no contorno de uma determinada área, todas elas com a imagem de César estampada. Ele nem se importou com o fato de que levantara imagens “idólatras” nas proximidades do templo. Como resultado, irrompeu outra rebelião.
Dessa vez um enorme contingente de judeus marchou na direção norte até o quartel-general de Pilatos em Cesaréia e exigiu que os estandartes romanos com a imagem de César fossem removidos. Naquele momento, quando Pilatos deu ordens para que seus soldados se dirigissem contra a turba de judeus, os últimos homens da multidão descobriram seu pescoço, desafiando o governador a matá-los. Até mesmo os centuriões ficaram impressionados.
Pilatos ficou ainda mais intimidado quando se lembrou da maneira pela qual teve de voltar atrás. Contudo, o que mais ele poderia fazer? A sobrevivência política nesse território abandonado da Judéia obviamente exigia sutileza diplomática, algo que ele considerava insultante. Ele preferia a força bruta. Era mais rápido – mais objetivo. Entretanto, Roma desejava a estabilidade naquela região. Agora Pilatos perguntava a si mesmo se algum dia isso seria possível.
Ele encarou Jesus outra vez. Aquele judeu tinha acabado de confessar que era um “rei”. Mas Pilatos era esperto o suficiente para saber que aquele rabi (mestre) itinerante falava acerca de alguma espécie de reino religioso – não de um reino político. Os principais sacerdotes o constrangiam a usar sua autoridade para sentenciar o acusado à pena capital, pela alegação de que Jesus cometera traição. Porém, Pilatos sabia que, pelo rigor da lei romana, aquele homem não representava risco nenhum de provocar uma revolta.
Então ele ouviu o grito de um dos escribas (ou era um dos sacerdotes? Talvez ele fosse ambas as coisas) que dizia algo sobre o modo pelo qual Jesus incitara o povo na Galiléia. Pilatos pensou:Herodes Antipas, o tetrarca da Galiléia, está aqui em Jerusalém para a festa. Esse Jesus procede do território que está sob a jurisdição de Herodes. Que Herodes julgue esse caso. Por que deveria eu decidir tal questão?
Nesse momento, ao dar novamente uma olhada em Jesus de Nazaré, o governador romano finalmente começou a esboçar um sorriso, que desapareceu de seu rosto quando ele contemplou os olhos fitos de Jesus nele como uma chama de fogo que arde no papiro seco, queimando a fina cobertura que ocultava as motivações políticas de Pôncio Pilatos.

Diz a história

Esse enredo dramático pode ou não refletir com exatidão os mais íntimos pensamentos de Pilatos. Contudo, é coerente com o relato dos quatro Evangelhos e com consideráveis registros da história antiga acerca do julgamento romano de Jesus.
Afinal, duvidar da historicidade do julgamento de Cristo perante Pilatos é o mesmo que questionar se a Suprema Corte dos Estados Unidos julgou o caso Dred Scott antes da Guerra da Secessão.
A existência histórica do Sinédrio é evidente e a família dos Herodes está solidamente comprovada nos escritos do historiador judeu Flávio Josefo, o qual também escreveu sobre o julgamento de Jesus perante Pilatos. A identidade do governador romano é atestada até mesmo fora dos relatos bíblicos e nos registros de Josefo.
Nos idos de 1950, numa escavação em Cesaréia, onde se localizava a residência oficial de Pilatos, descobriu-se uma inscrição em pedra. Embora uma parte dela tenha se perdido, as seguintes palavras ainda podiam ser lidas nitidamente: “Pôncio Pilatos, o Governador da Judéia”.
Já ouvi a argumentação daqueles que duvidam da Bíblia, alegando que a prática de Pilatos em conceder à multidão o direito de escolha, pelo voto verbal, entre Jesus e Barrabás, mencionada nos quatro Evangelhos, não era usual, nem histórica. Contudo, essa prática de indultar ou perdoar criminosos pelo voto popular realmente existiu. Um papiro do primeiro século (Papirus Forentinus),originário do Egito sob a ocupação romana, trouxe à luz que a mesma prática foi usada no ano 85 d.C.

Uma amizade misteriosa

O processo judicial romano reconhecia o direito de ficar em silêncio e a inocência do acusado até que se provasse o contrário. Antigos registros daquela época, transcritos de processos civis romanos, demonstram uma semelhança impressionante com o processo judicial nas cortes de justiça atuais.
Entretanto, há uma pergunta intrigante que nem as Escrituras Sagradas nem a história responderam. Após Pilatos ter enviado Jesus a Herodes para que este desse continuidade ao processo judicial, por que razão a Bíblia declara: “Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois, antes, viviam inimizados um com o outro” (Lc 23.12). Será que Herodes simplesmente desejava ser cordial? Isso parece pouco provável. O antigo escritor Fílon [de Alexandria, c. 20 a.C. - 50 d.C.] relatou que certa feita Pilatos instalou seus escudos distintivos dourados no palácio de Herodes. Herodes Antipas, ultrajado por tal situação, registrou uma queixa perante Tibério César, o qual ordenou que Pilatos removesse seus escudos daquele palácio. Com essa inimizade amargurada entre eles, só mesmo um motivo extremamente interesseiro, que garantisse o benefício de ambos, poderia ter curado a ruptura. Então, será que houve, de fato, uma conspiração entre Herodes e Pilatos? Se a resposta for afirmativa, contra quem seria?
Há uma possível explicação. Jesus permaneceu calado perante Herodes. Herodes o mandou de volta a Pilatos, porque não achou nele crime algum “digno de morte” (Lc 23.15). No entanto, segundo o texto de Atos 4.27, tanto Herodes quanto Pôncio Pilatos se voltaram contra Jesus. Ao harmonizarem-se tais versículos, chega-se à seguinte possibilidade: Herodes, embora desejasse secretamente livrar-se de qualquer pessoa (em especial, de Jesus) que representasse uma ameaça às suas ambições políticas, talvez tenha pensado que podia usar Jesus como um joguete, um peão no seu magistral jogo de xadrez – com o intuito de dar o xeque-mate no poder crescente do sumo sacerdote e do Sinédrio. Ao mesmo tempo, Pilatos queria simplesmente evitar mais uma decisão impopular e pode ter visto Herodes como um expediente de auxílio. Afinal de contas, Pilatos era uma pessoa moralmente baixa, além de ser um pragmático cruel.

O grande veredito

A despeito dos motivos de ambos, nem Herodes nem Pilatos conseguiram o que desejavam. Herodes, posteriormente, foi deposto por Calígula no ano 39 d.C. e Pilatos, depois de muitos fracassos, foi substituído em sua função de comando por ordens de Roma.
Todavia, Jesus, condenado sem razão e cruelmente crucificado, foi sepultado no túmulo de um homem rico e, três dias depois, ressuscitou triunfalmente.
A tarefa de Pilatos, como governador romano, era a de exercer justiça. Mesmo nos territórios de ocupação romana esperava-se que a justiça prevalecesse. O processo judicial romano reconhecia o direito de ficar em silêncio e a inocência do acusado até que se provasse o contrário. Antigos registros daquela época, transcritos de processos civis romanos, demonstram uma semelhança impressionante com o processo judicial nas cortes de justiça atuais: a presença dos advogados, a apresentação das provas documentais e testemunhais, bem como a formulação de elaborados argumentos legais. Pilatos, porém, desconsiderou todas as salvaguardas, ao permitir – e até mesmo ordenar – a execução de um homem que ele mesmo já tinha declarado inocente de qualquer crime passível de morte (Lc 23.14-15,22).
A última interrogação de Pilatos a Jesus registrada nos Evangelhos, pergunta essa que deve ter sido feita num tom de frustração e arrogância ultrajante, foi a seguinte: “Não sabes que tenho autoridade[poder] para te soltar e autoridade para te crucificar?” (Jo 19.10). Mas a resposta de Jesus a Pilatos deve ter penetrado até a medula, quando ele lembrou ao governador romano que Deus é o Outorgante Supremo da autoridade (v. 11). A partir de então, Pilatos redobrou seus esforços para evitar que o fiasco legal e político se desenrolasse na sua presença, mas tudo foi em vão (v. 12).
Entretanto, Jesus não foi morto por causa do fracasso de Pilatos em exercer justiça, nem por causa da conspiração de Herodes, nem mesmo em virtude da má fé de seus acusadores ligados ao Sinédrio. O sangue de Jesus foi voluntária e propositalmente “derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt 26.28).
O princípio fundamental da justiça romana espelhava-se numa máxima popular (a qual, posteriormente, foi coligida nas Institutas de Justiniano) que Pilatos, sem dúvida, conhecia, mas optou por ignorar: “A justiça é o propósito determinado e constante de retribuir a cada um o que lhe é devido”.
Assim, portanto, também há uma decisão pessoal diante de cada um de nós: após considerarmos as alegações, feitas por Jesus, de ser ele o Messias, o Filho de Deus em carne, o Salvador, a perfeita e definitiva oferta pelo pecado, será que nós – eu e você – temos retribuído a Jesus “o que lhe é devido”? (Craig L. Parshall - Israel My Glory - http://www.beth-shalom.com.br)





Reprodução de Gustavo Doré / “Jamais qualquer outra condenação trouxe tantas consequências para a humanidade”, Rodrigo Freitas Palma, advogado, mestre em Religião“Jamais qualquer outra condenação trouxe tantas consequências para a humanidade”, Rodrigo Freitas Palma, advogado, mestre em Religião
PAIXÃO SEM PERDÃO

O julgamento de Jesus Cristo

Advogados fazem análise jurídica do julgamento mais marcante da História e extraem lições para a Justiça moderna

Foi em uma sexta-feira como esta, há 1.977 anos, que ocorreu o julgamento de maior repercussão de todos os tempos. O réu: Jesus de Nazaré. Os julgadores: humanos. A acusação: o réu perturbava a ordem pública (pregando o amor) e se dizia o Filho de Deus. O veredicto: culpado, condenado a morrer crucificado. A consequência: uma virada incomparável na História. “Do ponto de vista histórico, jamais qualquer outra condenação trouxe tantas consequên­cias para a humanidade”, destaca Rodrigo Freitas Palma, advogado, mestre em Religião e autor da obra O julgamento de Jesus Cristo – aspectos histórico-jurídicos (Juruá Editora).
Todo o processo de prisão e julgamento que levou Jesus à cruz é descrito na Bíblia, no Novo Testamento (Evangelhos de Mateus, capítulos 26 e 27; Marcos, capítulos 14 e 15; Lucas, capítulos 22 e 23; e João, capítulos 18 e 19), e, agora, objeto de pesquisa de estudiosos do Direito. “Foi o maior escândalo judicial da História da humanidade”, afirma o advogado cearense Roberto Victor Pereira Ribeiro, autor do recém-lançado livro O julgamento de Jesus Cristo sob a luz do Direito (Editora Pillares). Para ele, Jesus foi condenado sem nenhum fundamento jurídico. “Nenhuma das legislações vigentes na época de Cristo traz em seu bojo algum fundamento ou fato que tipifique as condutas de Jesus como antijurídicas”, diz.
Acontecimento milenar, lições sempre atuais
Quase dois mil anos depois do julgamento de Jesus, os estudiosos do Direito debruçam-se sobre o ocorrido e retiram lições importantes para a Justiça praticada hoje. “A principal delas e, sempre atual, é a de que os poderosos, independentemente da época em que vivem, são capazes de tudo para ‘torcer o juízo’ a fim de se beneficiar de decisões equivocadas e irresponsáveis”, pondera o advogado Rodrigo Freitas Palma.
Sentença não teria sido escrita
Circula pela internet um documento tido como a sentença de Cristo, proferida por Pôncio Pilatos. “Determino e ordeno por esta, que se lhe dê morte na cruz, sendo pregado com cravos como todos os réus, porque congregando e ajustando homens, ricos e pobres, não tem cessado de promover tumultos por toda a Judeia, dizendo-se filho de Deus e Rei de Israel, ameaçando com a ruína de Jerusalém e do sacro Templo, negando o tributo a César, tendo ainda o atrevimento de entrar com ramos e em triunfo, com grande parte da plebe, dentro da cidade de Jerusalém”, afirma o documento – que estaria em um museu na Espanha.
Por sua vez, Freitas Palma identifica um motivo legal para a condenação de Cristo: “Os romanos, notórios cultores do Direito, somente poderiam condenar Jesus à morte tendo por base um fundamento legal. A chamada ‘Lex Julia Maiestatis’, datada do ano 8 a.C., estabelecia a condenação à morte a todos aqueles que se insurgissem contra Roma ou a figura do imperador, ainda que Jesus não fosse digno de tais acusações. Os crimes, no caso, eram a ‘sedição’ e a ‘lesa-majestade’. Isso fica bem claro quando se considera a tentativa de descrição do delito na tábua colocada logo acima da cabeça do nazareno, que traz a inscrição ‘Jesus de Nazaré é o Rei dos Judeus’ em três idiomas: latim, grego e hebraico. Nessas circunstâncias, duas são as penas previstas na legislação romana, uma acessória e a outra principal, respectivamente, a flagelação e a crucificação”.
Para o advogado tributarista mineiro Vinícios Leôncio, Jesus foi condenado por desobediência tributária. É o que defende em seu livro A Quarta Filosofia: Jesus Cristo não pagou o tributo (Editora Futuro). Há evidências da acusação no Evangelho de Lucas (capítulo 23, versículo 2): “Puseram-se então a acusá-lo nestes termos: ‘Nós achamos este homem (Jesus) tumultuando a nossa nação; ele impede de pagar o tributo a César e se diz Messias, rei’”.
Nulidades
Havendo ou não fundamento jurídico para a condenação de Jesus, as Escrituras apontam para um julgamento repleto de nulidades, como o uso de falsas testemunhas. “As mais hediondas nulidades foram a total falta de defesa e a imensa lacuna da acusação. Sem contar a grandeza da imparcialidade dos pseudo-juízes que o julgaram”, explica Pereira Ribeiro. Já Freitas Palma destaca irregularidades no julgamento de Jesus segundo os ditames da lei hebraica – antes de ser levado a Pilatos, autoridade romana, Jesus foi interrogado pelo Sinédrio, a alta corte judaica da época. “De acordo com a Lei Oral Hebraica (Halaká), Jesus não poderia ter sido julgado nem executado durante o Pessach (Páscoa), a mais importante festa judaica”, afirma.
Brasil
E se Jesus fosse julgado hoje, no Brasil? “Jesus não seria condenado em nosso país. O único crime que poderia ser imputado a Jesus seria o crime de curandeirismo. Nada mais se encaixa nas atitudes do Cristo”, afirma Pereira Ribeiro, que dedica todo um capítulo de seu livro à análise de um hipotético julgamento de Jesus segundo as normas legais brasileiras. A saber: o crime de curandeirismo, previsto no artigo 284 do Código Penal Brasileiro, prevê pena de detenção, de seis meses a dois anos.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Hoje dia 28 de março , visita a vila Brasilia, vamos lá , vamos todos vermelhar.

 

Todos juntos na vila Brasilia, mostrando aos jacarés que a Serra do Mel Vermelhou.a partir das 16:oohs.

Garibaldi e Henrique não traz nada para a Serra e só cria polemica.




Estoura crise política entre PT e PMDB do Rio Grande do Norte

Carlos Costa

Petista histórico Crispiniano Neto bate duro em Henrique Alves e Garibaldi Filho
Blog do César Santos
A presença na campanha eleitoral da Serra do Mel do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, e do ministro Garibaldi Filho detonou crise na base aliada da presidente Dilma Rousseff no âmbito do Rio Grande do Norte.
O PT decidiu chutar o pau da barraca, depois que viu os Alves reforçarem o palanque adversário na Serra, onde a vitória petista se transformou em questão de honra por tudo que aconteceu na terra descoberta e amada por Cortez Pereira.
Até então, o PT vinha suportando calado a aliança do PMDB com o DEM do senador José Agripino, maior crítico do governo Dilma, e até aguardava, de forma passiva, um eventual rompimento para promover a recomposição dilmista em 2014. Mas, o pedido de voto de Henrique e Garibaldi para o candidato Fabinho, do PMDB, contra a candidata Francisca do PT, provocou a explosão.
A reação veio primeiro pelo presidente estadual da sigla, Eraldo Paiva, que anunciou o projeto de o PT ter candidato próprio ao Governo do Estado em 2014, fechando a porta para uma possível candidatura Alves. Recado dado.
O exocet, porém, ficou sob a responsabilidade de um petista mais do que tradicional: Crispiniano Neto. Com autoridade de quem percorreu este País com o companheiro Lula no processo de fundação do PT, Crispiniano direcionou o míssil no rumo dos Alves.
Sem dó, nem piedade.
Em sua coluna “Prosa & Verso”, que assina diariamente no JORNAL DE FATO, o petista bateu e descascou feridas que pareciam saradas, ao chamar Henrique de “deputado Copa do Mundo”, selo dado pela deputada Fátima Bezerra (PT) quando ela não gostava dos Alves. E foi além, chamando de “corja” o grupo que esteve na Serra do Mel liderado por Henrique e Garibaldi, e desdenhando da promessa feita pelo deputado e pelo ministro de levar água para o município:
“Um grupo que não se pode dizer que é ruim de correr água, mas pode-se afirmar que é de lascar o cano…”
Para Garibaldi, sobrou a desconfiança do PT, na escrita de Crispiniano: “(Garibaldi) teve o desplante de prometer que, se o povo da Serra votar em Fabinho, ele levará para o município uma agência do INSS”.
E a acusação de prática de crime eleitoral. “Como pode um ministro de Estado prometer um serviço público, universalizado e republicano em troca de votos para o seu candidato?”, questionou.
Pois bem…
Crispiniano falou por ele e pelo PT, num recado duro, aberto e direto. É um fato novo na política potiguar, com leitura para 2014.
Evidentemente, o tempo e os interesses políticos vão dar a interpretação futura.

terça-feira, 26 de março de 2013

O Nordeste do Brasil e o Histórico das Grandes Secas.


A exploração Politica , a Industria das Secas     e   a falta    de sensibilidade social tem sido a grande mazela, deste fenômeno Climático. 


Introdução


Ao contrário do que muitos pensam, a seca não atinge toda região nordeste. Ela se concentra numa área conhecida como Polígono das Secas. Esta área envolve parte de oito estados nordestinos (Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) e parte do norte de Minas Gerais

Problemas identificados

O governo do Brasil, muitas vezes tentou combater os efeitos das secas incentivando e construindo grandes açudes, (Exemplo típico o Açude de Orós), a perfuração de poços tubulares, a construção de cacimbas, e a criação das chamadas "frentes de trabalho".

Estas atitudes têm sido paliativas, pois movimentam capital, geram sub-empregos e evitam, de certa forma, a migração e o êxodo rural. Porém, a corrupção, o coronelismo e a chamada indústria da seca, têm impossibilitado a resolução definitiva do problema a ser dada não somente com sobreposição de rios e construção de canais para a perenização dos cursos de água, irrigação e fixação do nordestino em seu território, mas também incrementando a democracia, a participação política e a mobilidade social.

Causas da Seca


As principais causas da seca do nordeste são naturais. A região está localizada numa área em que as chuvas ocorrem poucas vezes durante o ano. Esta área recebe pouca influência de massas de ar úmidas e frias vindas do sul. Logo, permanece durante muito tempo, no sertão nordestino, uma massa de ar quente e seca, não gerando precipitações pluviométricas (chuvas).

O desmatamento na região da Zona da Mata também contribui para o aumento da temperatura na região do sertão nordestino.

DESENVOLVIMENTO AMPLIADO

O fenômeno das secas no Brasil se dá por causas naturais, uma região que apresenta alta variabilidade climática, ocorrendo quando a chamada zona de convergência intertropical (ZCIT) não consegue se deslocar até a região Nordeste no período verão-outono no Hemisfério Sul, sobretudo nos períodos de El Niño.

A ZCIT apresenta um movimento meridional sazonal, com uma posição média anual junto à latitude 5 graus Norte.

Desde 1605, a região já enfrentou dezenas de períodos de seca.

Alguns de gravidade tão elevada que geraram aceleração do êxodo rural para outras regiões.

A seca não é somente um fenómeno ambiental com consequências negativas, mas um fenómeno de dimensões econômicas, sociais e políticas secularmente presente na vida da população do NE brasileiro.

Trata-se de um problema de distribuição dos recursos naturais, sobretudo da água.

A seca permite uma medida do quanto a água e a terra encontram-se pouco disponíveis para a porção mais pobre da população rural nordestina.

A região não é desértica, como se poderia pensar numa primeira abordagem, mas apresenta um clima semiárido. A precipitação anual em Paris (França) é similar em sua quantidade à precipitação sobre partes do Nordeste.

Mas é claro que a distribuição da precipitação e a quantidade de evapotranspiração são diferentes entre essas regiões.

No NE a distribuição da precipitação apresenta-se altamente variável de um ano para outro (associada ao fenómeno de variabilidade climática). Por outro lado a evapotranspiração potencial no NE também é relativamente maior devido a maior incidência de radiação solar.

Assim, a seca nordestina do Brasil é um problema bastante complexo. Ao longo da história brasileira a manutenção das regras sociais, do status quo da elite dominante (oligarquia nordestina) jogou contra uma democratização e distribuição dos recursos ambientais, assim estabelecendo os limites da ação das classes sociais, subordinando uma à outra diretamente.

Características da região


- Baixo índice pluviométrico anual (pouca chuva);
- Baixa umidade;
- Clima semi-árido;
- Solo seco e rachado;
- Vegetação com presença de arbustos com galhos retorcidos e poucas folhas (caatinga);
- Temperaturas elevadas em grande parte do ano

Avaliação da tendência de secas e estiagens no NE brasileiro

> Variabilidade climática no NE brasileiro

> Tendência climática em áreas de seca

> Tendência sazonal e anual em áreas de alta variabilidade climática

> Efeitos do El Niño, La Niña e dos períodos neutros

> Métodos estatísticos e as suas limitações dos periodogramas

> Análise de quantis e sua aplicação à tendência climática

> Aplicação da climatologia física (efeitos das flutuações das circulações globais da atmosfera, da temperatura da superfície do mar, TSM, da posição da Zona de Convergência Inter-tropical, ZCIT, dos dipolos da TSM do Atlântico Norte e Sul, dos Bloqueios associados à posição do Jato de Altos Níveis, JAN, atmosféricos, da presença de Baixas Fechadas de Altitude sobre o Nordeste Brasileiro, etc)

Cronologia das secas ( 1583 / 2012 )


1583/1585 - Primeira notícia sobre seca, relatada pelo padre Fernão Cardin, que atravessou o sertão da Bahia em direção a Pernambuco. Relata que houve "uma grande seca e esterilidade na província e que 5 mil índios foram obrigados a fugir do sertão pela fome, socorrendo-se aos brancos". As fazendas de canaviais e mandioca deixaram de produzir.
1606 - Nova seca atinge o Nordeste.

1615 - Seca sem grande repercussão/ efeito.

1652 - Seca atinge o Nordeste.

1692/1693 - Uma grande seca atinge o sertão. A peste assola a capitania de Pernambuco. Segundo o historiador Frei Vicente do Salvador, os indígenas, foragidos pelas serras, reuniram-se em numerosos grupos e avançaram sobre as fazendas das ribeiras, destruindo tudo.

1709/1711 - Grande seca atinge o Nordeste, estendendo-se até a Capitania do Maranhão, espalhando fome entre seus habitantes.

1720/1721 - Seca alarmante nas províncias do Ceará e do Rio Grande do Norte.

1723/1727 - Grande seca, fazendo dos engenhos verdadeiras ruínas. Irineu Pinto relata que os fiscais da Câmara pediram a El-Rey que mandasse escravos, pois os da região haviam morrido de fome.

1736/1737 - Outra seca no nordeste causa prejuízos à região.

1744/1745 - Seca provoca morte do gado e fome entre a população. Alguns historiadores afirmam que crianças que já andavam, devido à desnutrição, voltaram a engatinhar.

1748/1751 - Grande seca atinge a região.

1776/1778 - Uma das mais agravantes, pela falta de chuva e por coincidir com um surto de varíola, iniciado no ano anterior e que se prolongaria até 1778, provocando um alto índice de mortalidade. Quase todo o gado ficou perdido na caatinga. A Corte Portuguesa determinou que os flagelados fossem reunidos em povoações nas margens dos rios, repartindo-se entre elas as terras adjacentes.

1782 - Foi realizado um censo para determinar a população de áreas sujeitas a estiagens, cujo resultado apontou 137.688 habitantes.

1790/1793 - Seca transformou homens, mulheres e crianças em pedintes. Foi criada a Pia Sociedade Agrícola, primeira organização de caráter administrativo, cujo objetivo era dar assistência aos flagelados.

1808/1809 - Seca parcial atinge Pernambuco, na região do São Francisco, onde 500 morreram por falta de comida.

1824/1825 - Aliada à varíola, grande seca gerou muitas mortes na região nordestina. Os campos ficaram esterilizados e a fome chegou até os engenhos de cana-de-açúcar.

1831 - A Regência Trina autorizou a abertura de fontes artesianas profundas, na tentativa de resolver o problema da falta de água.

1833/1835 - Grande seca atinge Pernambuco.

1844/1846 - Seca de grande proporção provocou morte do gado e espalhou fome entre os nordestinos. Um saco de farinha de mandioca era trocado por ouro ou prata.

1877/1879 - Uma das mais graves secas que atingiram todo o Nordeste. O Ceará, por exemplo, tinha na época uma população de 800 mil habitantes. Destes, 120 mil (ou 15%) migraram para a Amazônia e 68 mil pessoas foram para outros estados.

1888/1889 - Grande seca atinge Pernambuco e Paraíba, deixando lavouras destruídas e vilas abandonadas.

1898/1900 - Outra grande seca atinge somente o Estado de Pernambuco.

1903/1904 – Vítimas da seca, milhares de nordestinos abandonam a região. Passou a constar na Lei de Orçamento da República uma parcela destinada às obras contra as secas. Criou-se três comissões para analisar o problema das secas nordestinas.

1908/1909 - Seca atinge principalmente o sertão de Pernambuco. Em 1909 foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS).

1910 - Foram instaladas 124 estações pluviométricas no semi-árido nordestino. Até então, haviam sido construídos 2.311 açudes particulares na Paraíba e 1.086 no Rio Grande do Norte.

1914/1915 - Seca intensa em toda região semi-árida nordestina.

1919/1921 - Em conseqüência dos efeitos dessa seca (que teve grandes proporções, sobretudo no sertão pernambucano), cresceu o êxodo rural no Nordeste. A imprensa, a opinião pública e o Congresso Nacional exigiram a atuação do governo. Foi criada, em 1920, a Caixa Especial de Obras de Irrigação de Terras Cultiváveis do Nordeste Brasileiro, mantida com 2% da receita tributária anual da União, além de outros recursos. Mas efetivamente, nada foi feito para amenizar o drama das secas.

1932 - Grande seca no Nordeste.

1945 - Mais uma seca atinge o Nordeste. Foi criado o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) que passou a desempenhar as tarefas antes atribuídas à Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, criada em 1919.

1951/1953 - Grande seca atinge todo o Nordeste.
1953 - Outra grande seca no Nordeste. O DNOCS propôs um trabalho de educação entre os agricultores, com o objetivo de criar núcleos de irrigação.

1966 - Seca atinge parcialmente o Nordeste.

1970 - Grande seca atinge todo o Nordeste, deixando como única alternativa para 1,8 milhões de pessoas o engajamento nas chamadas "frentes de emergência", mantidas pelo governo federal.

1979/1984 - A mais prolongada e abrangente seca da história do Nordeste. Atingiu toda a região, deixando um rastro de miséria e fome em todos os Estados. No período, não se colheu lavoura nenhuma numa área de quase 1,5 milhões de km2. Só no Ceará foi registrada mais de uma centena de saques, quando legiões de trabalhadores famintos invadiram cidades e arrancaram alimentos à força em feiras-livres ou armazéns.
Segundo dados da Sudene, entre 1979/1984, morreram na região 3,5 milhões de pessoas, a maioria crianças, por fome e enfermidades derivadas da desnutrição. Pesquisa da Unesco apontou que 62% das crianças nordestinas, de 0 a 5 anos, na zona rural, viviam em estado de desnutrição aguda.
Os séculos se passaram e o cenário da seca continua o mesmo.

1993 - Grande seca atinge todos os estados do Nordeste e parte da região norte de Minas Gerais. Só no nordeste, de acordo com dados da Sudene, um total de 1.857.655 trabalhadores rurais que perderam suas lavouras foram alistados nas chamadas "frentes de emergência". Pernambuco foi o estado que teve o segundo maior número de agricultores alistados nessas frentes, com 334.765 pessoas, perdendo apenas para a Bahia (369 mil trabalhadores alistados).
As perdas de safras foram totais, em todos os Estados Nordestinos.

1998 - No final do mês de abril, vêm agressivamente, mais uma vez, os efeitos de uma nova seca no Nordeste: população faminta promovendo saques a depósitos de alimentos e feiras livres, animais morrendo e lavouras perdidas. Com exceção do Maranhão, todos os outros estados do Nordeste foram atingidos, numa totalidade de cerca de 5 milhões de pessoas afetadas. Esta seca estava prevista há mais de um ano, em decorrência do fenômeno El Niño, mas, como das vezes anteriores, nada foi feito para amenizar os efeitos da catástrofe.

2001 - Praticamente um prolongamento da seca iniciada em 1998 (que se estendeu por 1999 e apenas amenizou-se em 2000). A seca de 2001teve uma particularidade em relação às anteriores: ocorreu no momento em que não só o Nordeste, mas todo o Brasil vivia uma crise de energia elétrica sem precedentes em todo a história do País, provocada por falta de investimentos no setor e pela escassez de chuvas. Daí, o nordestino desabafou: "Agora é sem água e sem luz!"

2012 - O Nordeste tem a pior seca dos últimos 30 anos, desimano quase por completo a Pecuária e Agricultura familiar. A terra sem verde, os rios sem água e os animais magros ou mortos pelos pastos do sertão. Em algumas regiões do semi-árido nordestino não caiu nenhuma gota d'água em 2012.





Norte do estado tem longo histórico de secas rigorosasAs piores secas piores registradas no semiárido mineiro e no Nordeste brasileiro ocorreram em 1939, 1975/1976, 1996/1997, 2007/2008.


Publicação: 20/05/2012 07:44 Atualização: 20/05/2012 08:50

Ana ribeiro precisa fazer várias viagens para matar a sede (Jackson Romanelli/EM/DA Press)
Ana ribeiro precisa fazer várias viagens para matar a sede
Dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) e registros históricos indicam que as piores secas piores registradas no semiárido mineiro e no Nordeste brasileiro ocorreram em 1939, 1975/1976, 1996/1997, 2007/2008. Aos 90 anos, Domingos Jacinto de Oliveira, pequeno agricultor da localidade de Canafístula, no município de Porteirinha, conta que sobreviveu a todas elas. “Na seca de 1939 eu ainda era muito novo, e lembro pouca coisa. Só sei que o povo sofreu muito. Das outras, lembro tudo. E a deste ano é a pior de todas. Chuva mesmo só caiu até o começo de janeiro. De lá para cá, não choveu quase nada”, lamenta seu Domingos. Assim como os vizinhos, a família dele usa a água de um caminhão-pipa, que só aparece na localidade de 20 em 20 dias. Para manter os animais, a comunidade recorre a um poço tubular cuja vazão diminui a cada dia.

O rigor da estiagem considerada pelos moradores mais antigos como a pior da história também assusta o pequeno produtor Geraldo Luiz do Nascimento, de 66 anos, da localidade de Teú/Barreiro, no município de Espinosa. “Nas secas dos outros anos, salvava alguma coisa. Desta vez não sobrou nada”, conta Geraldo, que tenta alimentar sua cabrinha com a palha seca do que restou da roça de milho de dois hectares em seu torrão, que não vingou. O Rio Galheiros e outros córregos na região estão completamente vazios desde o ano passado. Por isso, quando o caminhão-pipa demora, a comunidade é obrigada a recorrer à água salobra captada em um poço tubular. llva Rodrigues Nascimento, de 35, recorre a uma carroça para carregar água por uma distância de 400 metros. “É a primeira vez que vivo uma situação dessa”, diz Ilva, que usa o que consegue captar para lavar roupa.

Mas a situação dela não é das piores. Alguns moradores da mesma comunidade têm de recorrer à velha lata d’água na cabeça, como faz Ana Senhora Ribeiro, de 42 . “Muitas vezes, uso essa água para cozinhar. Mas é ruim demais”, lamenta ela, que precisa andar 300 metros várias vezes por dia para apanhar água.

De acordo com o escritório local da Emater, de outubro a março, foi registrada em Espinosa precipitação de 423 milímetros. “A chuva não deu para encher nenhum rio do município e as perdas nas lavouras milho e feijão foram superiores a 70%”, relata Jorge Murilo Tolentino, técnico da empresa estadual no município.

O Verde Pequeno desapareceu


A grande preocupação das autoridades locais é que a barragem de Estreito (Rio Verde Pequeno), que abastece a cidade, está com apenas 20% de sua capacidade. Abaixo da barragem, o leito está completamente seco, como se verifica na localidade de Alagadiço 2. “Antigamente, corria muita água nesse rio. De uns tempos prá cá secou de vez”, conta o agricultor Cícero Nunes dos Reis, de 45, mostrando um local onde foi erguida uma velha “pinguela” para travessia do local onde hoje só há o leito vazio.

Com os leitos cortados, gente como Maria Aparecida Pimentel da Silva de Assis, de 44, uma das lutadoras da comunidade de Roça Velha, também na zona rural de Espinosa, tem de acumular tambores de plástico e o que mais possa guardar água para a família. Para consumo dos três filhos, ela conta com o pouco que é entregue pelo caminhão-pipa. Para cuidar dos animais, o marido dela, Urbano Rodrigues de Assis, de 48, precisa buscar água em carro de boi, em um poço tubular a quase um quilômetro de casa.

Enquanto isso...


...nordeste é castigado

No Nordeste do país, a estiagem também é considerada uma das piores da história. O vizinho estado da Bahia, por exemplo, está sem chuva há mais de cinco meses e quase 240 municípios já decretaram estado de emergência. Mais de 2,7 milhões de pessoas já foram afetadas apenas no estado. E o problema avança pela região. No Piauí, as perdas na lavoura ultrapassam 80%, e 112 municípios decretaram situação de emergência. Em Alagoas são 33 prefeituras nessa condição. Em Pernambuco, 97 municípios enfrentam a mesma situação e mais de 1 milhão de pessoas foram afetadas.

As piores secas da história

1939 - De acordo com registros históricos, em 1939 uma grande seca atingiu todo o Nordeste brasileiro, o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, espalhando fome e desespero, com milhares de pessoas deixando as regiões atingidas em direção aos grandes centros.


1975/1976 - Tida como uma das mais severas estiagens que atingiram o Norte de Minas. Foi um longo período sem chuvas, que, na maioria dos municípios, não passaram de 500 milímetros na estação das águas (outubro a março). A estiagem durou em torno de 10 meses, provocando perda de quase 100% das lavouras.


1996/1997 - Uma grande seca abrangeu além do Norte de Minas todo o Vale do Jequitinhonha. As perdas nas lavouras foram de aproximadamente 100%. Longo período de estiagem, com chuvas acumuladas abaixo dos 500 milímetros no período chuvoso (outubro a março).


2007/2008 - O período seco também foi antecipado e a demora para o início das chuvas acarretou esgotamento das pastagens e das reservas alimentares. A pecuária foi o setor mais atingido e os produtores foram forçados a se desfazer de parte do rebanho. Foi registrada uma redução no rebanho bovino da região de aproximadamente 300 mil cabeças, devido a morte dos animais e vendas a baixo preç




Foto: Oh! Deus, perdoe este pobre coitado,que de joelhos rezou um bocado pedindo pra chuva cair sem parar ♪